Conhecida pelo “trajeto acadêmico”, linha 55 chega ao fim após 18 anos

Com extensão de 34,8 quilômetros, frequência de 6 minutos e frota total de 20 veículos, a 55 percorria oito bairros de Fortaleza.

- Próxima desce!
- Motorista vai devagar, tá levando é gente, né boi não!
- Bom dia senhores passageiros, eu podia estar roubando, mas vim aqui pedir uma ajuda pra vocês de 5 ou 10 centavos…
- Ave Maria, que coisa lotada, nam!

Para quem utiliza o transporte público de Fortaleza, estas são situações cotidianas das longas viagens diárias. Cenário comum vivido na extinta linha 55, que teve paralisação repentina em março, dando lugar à linha de ônibus 755. A rota feita há 18 anos em Fortaleza era famosa por extenso trajeto, que percorria quase toda a cidade.

Com extensão de 34,8 quilômetros, frequência de 6 minutos e frota total de 20 veículos, a 55 percorria oito bairros de Fortaleza: Conjunto Alvorada; Seis Bocas; Edson Queiroz; Água Fria; Dionísio Torres; Bairro de Fátima; Benfica; São Gerardo e Presidente Kennedy. Sua parada inicial ficava no bairro Conjunto Alvorada e ponto final no North Shopping da Avenida Bezerra de Menezes.

Ações de mobilidade

Em setembro do ano passado, devido a alterações do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito de Fortaleza (PAITT), o itinerário da linha foi reduzido e a “topic” passou a operar apenas do Conjunto Alvorada até a Universidade de Fortaleza (Unifor). Há cerca de 20 dias, a linha parou de circular completamente.

A grande extensão da rota era bem conhecida pelos universitários, já que permitia o acesso as principais universidades de Fortaleza de forma prática. O “trajeto acadêmico” iniciava na Universidade Federal do Ceará e Instituto de Tecnologia no bairro Benfica, indo até a Universidade de Fortaleza, no bairro Edson Queiroz.

De acordo com o diretor financeiro da Cooperativa dos Transportes Autônomos de Passageiros do Estado do Ceará (Cootraps), Emerson Bezerra, as mudanças da linha definidas pela Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) ocasionaram uma queda significativa de passageiros, e por isso, causou o fim da linha. “Ficou inviável para os cooperados manterem seus veículos operando na linha por conta de despesas e manutenção dos carros. Estamos em contato com a Etufor para resolver a questão. Mas já queremos pedir desculpas aos usuários por essa suspensão sem uma devida explicação”, ressalta.

De acordo com os técnicos do PAITT, a linha 755 possuía um trajeto fora da lógica do sistema, atravessando toda a cidade em veículos de baixa capacidade. Por este motivo, a alteração da linha foi realizada dentro do Plano, que tem por objetivo dar um caráter alimentador ao Sistema Complementar operado por veículos de menor capacidade, popularmente chamado de vans.

Passageiros lamentam

A mudança na rota pegou de surpresa a doméstica Ecileude Rodrigues, 38. Ela utilizava a linha há três anos para chegar ao trabalho, no Conjunto Alvorada. “Eu descia na última parada que ficava no bairro que eu trabalhava, agora dificultou muito porque não passa mais nenhum ônibus por perto que eu possa pegar”, lamenta. A doméstica, que demorava apenas meia hora de sua casa, no Meireles até o serviço, agora demora mais de uma hora para chegar ao seu destino “Tenho que pegar mais dois ônibus, fora gastos com mais passagens”.

A paralisação repentina da topic também foi sentida pelo professor universitário Bruno Neves, 27. Usuário da linha, ele comenta que os ônibus complementares que estão no lugar da linha não estão atendendo a demanda. “A topic andava lotada nos horários de pico, mas normalmente passava rápido. A alternativa a 55 é o Campus do Pici/ Unifor, que é pior do que ela era”.

Embora não utilize mais a linha, Bruno relembra, de forma bem-humorada, que na 55 não precisava segurar-se em nada para ficar de pé. “Devido a lotação do transporte, quase me ‘fundia’ nas pessoas nos horários de pico”, relembra.

” O drama da topic 55″

Esse “sofrimento” conhecido da linha virou até tema de radionovela. Em 2005, alunos do curso de jornalismo da UFC fizeram um trabalho para disciplina de radiojornalismo baseado na rotina do alternativo, chamada ” O drama da topic 55″. A história retrata, em tom humorístico, os diálogos existentes no coletivo: pessoas reclamando da lotação, do calor, do empurra-empurra, das freadas bruscas do motorista. Tem ainda pedido de música e espaço para as conhecidas vendas de doces e pedidos de ajuda para supostas ONGs.

“O colega jornalista Tiago Braga, na época estudante, era, assim como eu, usuário da topic 55 e sugeriu que fizéssemos a novela sobre o cotidiano dentro do transporte coletivo. Todos da nossa equipe, cerca de oito pessoas, pegavam ônibus ou topic. Logo foram surgindo ideias e personagens para compor o roteiro, sempre com boa pitada de humor típico dos cearenses”, conta o jornalista Gusto Castro, um dos criadores do programa, e que utilizou a linha durante seis anos.



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