Diário - Dois anos depois de assumir a Prefeitura, nós podemos dizer que a máquina hoje está estruturada para o senhor executar o que planejou para este período?
Prefeito - Eu diria que hoje tenho controle da situação. Talvez essa seja a melhor definição do meu sentimento agora. Recebi a cidade em grandes dificuldades, com mais de R$ 500 milhões em dívidas corrente. Mas o que era mais grave era uma estrutura de receita e de despesa que não fechava. Despesas crescentes, receitas decrescentes. Inclusive em alguns momentos o próprio ISS, que é a principal fonte de receita da Prefeitura, crescendo menos do que a própria inflação. A Prefeitura no primeiro ano do exercício não conseguiu pagar a folha de pessoal em novembro e dezembro. Também encontramos uma máquina administrativa pouco profissionalizada, com muito interferência política e o que era mais grave, sem planos. Grande parte da tarefa nesses dois anos foi uma tarefa interna de estruturar administrativamente, passar a profissionalizar mais algumas áreas da gestão, como educação e saúde. Principalmente, organizar o financeiro, fazer projeto e captar recursos. Nós temos hoje planos, projetos e principalmente uma estrutura financeira muito mais organizada, com dinheiro captado que vai dar à cidade ao longo desses dois anos uma capacidade de investir como nuca foi feito antes na cidade de Fortaleza. Ainda estamos fechando o balanço do ano, mas nós deveremos chegar com gastos de investimento público em torno de R$ 550 milhões. Esse é, ajustado para a inflação, o maior investimento real já feito pela cidade de Fortaleza.
Diário - Esses R$ 500 milhões são do erário municipal ou só uma parte dele?
Prefeito - Eu diria que em torno de 40 a 45% desses recursos de investimento são próprios e o resto é fonte captada. Fortaleza, nesse ano, a despeito de grande esforço que está sendo feito de ajuste fiscal, aumento de tecnologia, nós estamos crescendo com ISS pela primeira vez em muitos anos. Deve fechar esse ano com aumento de 15% do ISS, o que é muito significativo. Somando IPTU, ISS e ITBI, que são as fontes próprias de receita do Município, nós somamos em torno de 1 bilhão e 100 milhões de reais.
Diário - Durante a campanha em 2012, o senhor falou muito na Fortaleza dividida, a Fortaleza rica e a Fortaleza miserável. Dois anos depois já dá para sentir alguma diferença entre essas duas Fortalezas?
Prefeito - Ainda não, até porque o resultado desses investimentos é de médio prazo. Há talvez um indicador disso. A localização dos equipamentos públicos novos da Prefeitura em construção, como postos de saúde, creches, escolas de tempo integral, tem como critério básico o baixo IDH. Além disso, nós implementaremos uma política que terá um resultado econômico mais prático. Incentivos tributários, inclusive, de infraestrutura por parte do Município para a localização de novos negócios ou expansão de negócios existentes também nos bairros mais pobres de Fortaleza. Eu diria que o casamento de localização de novos equipamentos públicos com a indução de investimento de novos negócios nesses bairros é que, no médio prazo, poderá mudar o ambiente dessa realidade em Fortaleza. Um dos bairros mais estigmatizados em Fortaleza por uma pobreza que é crônica é o bairro do Jangurussu. Lá no Jangurussu, nós fizemos uma UPA, entregamos um CUCA, entregamos duas creches, entregamos um posto de saúde reformado.
Diário - O senhor fez reformas em vários postos de saúde e acabou gerando desgaste para a população. Todos os postos já foram reformados e quais os outros avanços garantidos para a saúde?
Prefeito - Ainda temos mais nove dos que a gente já começou a intervenção e são mais 24 novos para serem entregues. Desses nove, meu prazo era dezembro, mas alguns vão ficar para janeiro. Todos estarão funcionando por 12 horas, com farmácia na unidade, com coleta de exames, com odontologia. Obviamente que não é só a entrega do posto. O principal depois da entrega da unidade é o monitoramento da qualidade da assistência que está sendo feita no posto de saúde. A próxima etapa para começar no começo do próximo ano será a redução das filas de exames e consultas. Esse é um problema de todo o Brasil. São as filas longas de exame e consulta que existem até na rede privada, mas na rede pública são especialmente um grande gargalo. Nós vamos lançar uma política antes das policlínicas estarem prontas, que vão demorar a ficarem prontas e equipadas. Já no próximo ano vamos fazer uma parceria entre Prefeitura e Governo do Estado, inclusive conveniando com hospitais filantrópicos, hospitais privados, hospitais públicos.
Diário - Na educação, melhorou a situação, sobretudo, para as pessoas mais pobres?
Prefeito - A gente vinha perdendo alunos da rede pública municipal. Esse sangramento era de 10 mil alunos por ano em média ao longo dos últimos quatro anos que me antecederam. Primeiro, isso é uma crise de credibilidade. Na hora em que uma mãe ou o pai de um aluno troca uma escola municipal gratuita por uma escolinha do bairro em que ela paga 50 ou 70 reais do seu salário é porque ela não confia mais naquela escola. Não confia porque não tem gestão, porque tem muita interferência política. É uma série de razões. O segundo (problema) era de financiamento, porque hoje quem financia parte dos recursos da educação é a União, através do Fundeb, e esse financiamento é por aluno. Se você reduz o número de alunos, você reduz o financiamento para uma rede que tem exatamente o mesmo tamanho. Então, aconteceram medidas muito duras no começo, mas necessárias. Ajuste de calendário e reconstrução da credibilidade. Em 2014, nós estamos celebrando, porque a gente parou esse sangramento, aumentamos em dez mil o número de alunos e a procura nos últimos dias por matrícula nos indica que a gente deve ter, em 2015, um crescimento significativo de matrículas.
Diário - A gestão do senhor pôs fim ao tempo integral nas creches municipais e isso causou muita polêmica entre membros da oposição. Quais as razões para essa medida?
Prefeito - Essa é uma informação incompleta que acabou sendo recheada e colorida. Obviamente que é o papel da oposição fazer isso. Foi exatamente a omissão da gestão que me antecedeu que gerou uma realidade com poucas matrículas e de muitas mães e crianças sem a oportunidade de ter um filho na creche municipal. Então, essa é uma opção temporária, dura, mas de realidade de um prefeito que tem que agir muitas vezes como uma mãe ou como pai.
Diário - A questão da mobilidade urbana acabou sendo uma das principais marcas do início da gestão, mas ao longo dessas obras o senhor acabou colecionando alguns desgastes. Hoje, esses desgastes valeram a pena?
Prefeito - Desgaste nunca vale a pena, mas eu diria que valeu a pena incorporar o desafio de fazer. A cidade meio que se acomodou a uma realidade de não se fazer obras. Ao passo que esse conformismo foi sendo instalada na cidade, Fortaleza foi perdendo terreno. Quando você olha para algumas cidades no Brasil e olha para Fortaleza, você vê como a gente está muito atrás em termos de planejamento urbano. Eu tenho a consciência de que qualquer debate dessa natureza divide opiniões. Agora, tem um efeito positivo gerado por esses debates. Essas intervenções passaram a emular na cidade um clima de debate e reflexão sobre o futuro de Fortaleza. Muitos desses críticos são motivados pela política e normalmente só olham para a grande Aldeota. As intervenções da Cônego de Castro, do Siqueira, Val Paraíso não interessam e nem mobilizam essas pessoas. O que mobiliza são os debates dessa parte rica da cidade de Fortaleza e, muitas vezes, manipulados por argumentos motivados pela política.
Diário - O senhor encaminhou para a Câmara uma série de projetos tratando da reforma administrativa. Isso significa que nós vamos ter uma governança nova?
Prefeito - Fiz uma primeira reforma muito mais para estruturar a administração com a cara dos tempos mais modernos que a cidade tinha que incorporar. Mas não deu para a gente fazer uma reflexão profunda, até porque não tivemos transição. Não foi permitida ter transição. Por isso que nós contratamos uma consultoria, a Dom Cabral, que é especialista em gestão pública, para poder diagnosticar áreas que não precisavam existir, áreas que tinham baixa performance, setores que equivocadamente assumiam funções que não deviam ser suas. Foi a partir desse diagnóstico que nós passamos a negociar internamente com sindicatos, porque não adiantava mandar uma reforma para a Câmara para ela não ser aprovada. Essa mensagem sim vai nos permitir uma governança que pelo menos em estrutura dará maior eficiência à condução administrativa.
Diário - O que é o projeto Fortaleza 2040?
Prefeito - A ideia de 2040 é um plano de dois anos (de 2014 a 2016) que tem obviamente um forte elemento técnico, mas a partir do começo do próximo ano ele vai ganhar as ruas da cidade. Haverá debates setoriais e debates regionais. A ideia é que, ao final de 2016, a gente possa ter 2040 pronto e que ele se transforme em Lei para que qualquer prefeito que eventualmente esteja no exercício do cargo tenha a obrigação de executá-lo.
Diário - Daqui para 2016 o senhor acredita que irá alcançar o que projetou lá em 2012 durante a campanha?
Prefeito - Isso depende muito do que está por vir. As bases do nosso projeto foram construídas. Para você entregar uma creche, um posto de saúde, você passa por etapas de planejamento, depois de projeto, depois de desapropriação de terreno, depois de viabilização do recurso, licitação, obra, contratação de profissional e depois colocar para funcionar. Então, há uma longa etapa. Ao longo de dois anos, exatamente pela desestruturação dos serviços, pela falta de projeto, pela falta das bases para a gente trabalhar, a gente perdeu tempo organizando essa primeira fase. Depende agora de nós termos eficiência e muita pressa ao longo desses dois anos para a gente poder entregar cada um desses compromissos.
Diário - Nós tivemos uma eleição neste ano em que seu candidato acabou vencendo, mas perdeu em Fortaleza e na Região Metropolitana. O senhor acha que sua administração foi parcialmente julgada na campanha?
Prefeito - É difícil a gente precisar sem ter um elemento científico, sem um dado objetivo. O que eu posso dizer é que fiquei muito frustrado enquanto prefeito de Fortaleza de não ter visto o Camilo ganhar em Fortaleza. Felizmente, Camilo é governador e agora a nossa tarefa é governar bem, tanto ele como eu, para a cidade de Fortaleza. Na época da eleição, eu tinha um ano e meio de gestão. Então, tanto influenciar positiva como negativamente o resultado eleitoral seria muita presunção imaginar que, com um ano e meio, eu teria essa relevância no processo eleitoral. Agora, nossa tarefa é trabalharmos juntos para atender as expectativas da cidade de Fortaleza em relação a ele e a mim.
Diário - A sua oposição durante esses dois anos foi toda incrustada no PT de Fortaleza, agora o governador é do PT. Isso lhe traz preocupação?
Prefeito - Quem está na tarefa que eu estou não pode dissipar muita energia fazendo plano político. Honestamente, eu não vou perder muito tempo com essa coisa de preparar 2016. A melhor forma de preparar 2016 é trabalhar 2014, 2015 e manter o diálogo respeitoso com quem faz oposição. Parte do PT municipal fez e faz oposição à minha gestão, mas parte significativa de militantes do PT, inclusive mandatários sediados em Fortaleza, tem uma relação de proximidade com a nossa gestão.
Diário - O governador Cid Gomes disse em entrevista (ao Diário do Nordeste) que o senhor, o irmão dele, Ciro Gomes, e o presidente da Assembleia, José Albuquerque, vão gerir os interesses do grupo político que ele lidera. Qual é a sua missão?
Prefeito - Eu fico muito honrado em ouvir isso, mas a principal missão minha e eu tenho clareza disso é administrar bem Fortaleza. Ninguém constrói liderança política só de retórica e arrumando briga para criar factóide. Liderança política se constrói fazendo as coisas, sendo respeitado pelo estilo, mas principalmente pelo que se faz para o povo. O meu quinhão de tarefa é poder administrar bem Fortaleza e construir uma liderança na cidade através do meu serviço, através do que eu vou entregar.
Alan Barros/Edison Silva
Repórter/Editor
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